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Texto e Poesia

Butantã

Volta

Gororoba tupi-guarani

Águas Revoltas

Aqui se encontra um acervo de textos poéticos inspirados no "Repensando o Apocalipse: Um Manifesto Indígena Anti-Futurista." e áudios de narrações desses textos, cada criação buscando transmitir a realidade dos povos originários e a bagagem histórica que carregam em sua cultura através de narrações escritas e faladas.

Tempos de Hiena

Brasa por Justiça

Parabéns, colonizadores.

Glossário

texto 1

Não creio no diabo,

Mas já vi satã

Vestindo couro, chapéu e pólvora

Queimando seco o ventre da mata

Gastando apreço pela definição de raça

Tirando o ser do que se é

Aculturação

Tentaram nos fazer esquecer

Mas, em cada corpo reside uma nação

Há força em cada batida de pé no chão

E quando escuto meus ancestrais

E nos sonhos percebo seus sinais

A sabedoria em emergência

Lembro de não esquecer quem sou

A memória atravessa nossa existência

 

00:00 / 00:35

Poema escrito e declamado por: Marcos Davi

Volta

texto 2
00:00 / 00:37

Poema escrito e declamado por: Marcos Davi

A vida não é uma flecha

Não há final, meio e começo

A história não cessa

Cada ciclo um ensinamento

 

O passado é agora

O futuro sou eu

O progresso não me impressiona

E, de fato, não é meu

 

Meus ancestrais me mostram o caminho

O tempo é quem tece o destino

Voltar é algo que preciso

 

Pajé me disse uma vez

“Passarinho que não aprende com a mãe

Morre sozinho na mata sem saber voar

Sejamos mães e filhos, aprender e ensinar

 

00:00 / 00:31

Poema escrito e declamado por: Marcos Davi

Gororoba Tupi-guarani

Buriti não dá cipó

Igapó jamais igarapé

Gariroba vive só

Jacaré não anda em pé

 

Curumim, Guri feliz

A se tornar jururu

Guardando feito baiacu

 

Pois, sejamos Oiapoque,

Danças na Sapucaí

Ainda que o mundo seja cru

 

Boitatá protege a mata

Pro meu peito ainda ser verde

Não serei mais Iguapé

  Dos barcos que querem ver meu peixe na rede

 

text 3

Poema escrito e declamado por: Lorenna Barreto

Águas Revoltas

O semblante é como areia afogando-se no oceano

Pupilas dilatadas destacando o Urucum sobre a pele

De longe se viu os Rebeldes antinacionalistas

De perto a prisão que jamais se esquece

Negar a identidade nacional

Reivindicar a identidade interior

Eles só lembram da batalha dos corpos

Mal viam a mente num estupor

Todos pintaram a cortina de fumaça

Uma mentira e Ilíada interminável

Assim revelou-se a verdadeira face

Então tornou-se abominável

Tentaram me enterrar sem cor e sem nome

Ressuscitei como um estranho e honrei meus mortos

Senti pena dos vivos e daqueles em amor

Parti meu coração em mil e joguei sobre os corpos

Minhas memórias são a constituição

Todas dolorosas e absortas

Falo não só do fogo que nos queimou

Mas também daquelas águas revoltas

 

texto 4
00:00 / 02:25

Poema escrito e declamado por: Lorenna Barreto

Tempos de Hienas

Não me lembro que dia era quando a fumaça se espalhou e o sol não nasceu mais

O Curió pousou cansado na beira do precipício

A Hiena lhe aguardava como um carrasco

Eu observava de longe, sentindo minhas lagrimas afogarem a terra

Uma praga se alastrou e muitos olhos lacrimejaram

A Hiena sorria para o Curió ferido

Ela o rodeava, marcando seu cheiro pútrido

Aquela fronteira era o limite, território de outras hienas como ela

O Curió já sabia a guerra que seus ancestrais lutaram e que teria que lutar agora

“Fui eleito” ela disse

Roubo e sangue quente

“Quero te fazer igual a mim”

Um deboche, cinismo, uma violência

“Não sou igual a tu”

E nunca seria, o Curió quis cuspir

Oh, meu Curió tão belo e ferido

A semente da nação de brasa

Mirou a mim e as minhas estrelas

Pedindo compaixão e força

Agora tendo que olhar a peste nefasta forasteira

“Certa vez tive um bicho igual a tu”

Ah, com certeza ela via apenas bichos, o Curió pensou

“Vocês estão evoluindo, quase um ser igual a nós”

O passarinho ferveu, assim como as queimadas na mata

Aquele era o novo mundo, mas teria seu fim

A alvorada na reserva era como um fio de esperança Mesmo machucado e com fome, o Curió tinha pena da Hiena

Porque aquele reinado não duraria para sempre

E aquela criatura vã e amaldiçoada cairia num poço profundo

“Pobre passarinho, você não tem poder aqui”

Meu Curió não fazia questão

Mas a besta tinha que pagar

Tinha que devolver suas fronteiras que não lhe pertenciam “A praga está cada vez mais forte” o Curió disse

“Um resfriado não vai te matar” a Hiena sorriu

O passarinho nada disse

Porque as pragas não sorriam por muito tempo

texto 5

Poema escrito e declamado por: Lorenna Barreto

Brasa Por Justiça

Aquele homem deitado sobre o couro

Já nasceu desvirtuado sob o sol de seu opressor

Acariciava minha pele áspera e violentada

Balbuciava meu nome verdadeiro, Vermelha, como deveria ser

Ele eram um criador da arte que ninguém compreendia

Seu povo vivia um futuro de um passado que nunca os pertenceu

Um apocalipse fantasma de uma ordem social

Construída sobre genocídio e escravidão

Aqueles touros brancos do Vale do inferno

Aquele homem ainda era meu filho e traçava como ninguém

Os desenhos são como caminhos e caminhos são como tecidos

A união das metades a conexão do que é visível e invisível

Eu fui a casa de muitos deles

Daquele Xamã que via o que não se podia ver

Através do gosto amargo do tabaco

Eu queria tirar aquilo que sustentava os homens brancos Vidas Roubadas que eles engoliram com um gole de leite

Como aquele homem de bigode engraçado

O xamã vê o mundo pelos olhos da serpente

A ontologia da transformação guia sua arte

Então ele me disse:

“Brasa, eles odeiam a nossa liberdade”

E nós odiamos eles, eu disse

“Mas eles Entraram na minha mente”

Eu sabia que sim

Mas seu espírito continuava lá mesmo querendo partir

Eles pensam que meus filhos estão mortos por dentro Engraçado, eles também são meus filhos

Mas eles não se importam

E se o grito de justiça fosse um grito de vingança?

E se meus filhos mutilados ateassem fogo ao invés de cantos?

Aquele capitalista não passa de um saqueador

Ainda posso sentir o cheiro da ruína

Dos quadros de argila fervendo nas paredes

Sempre foi sobre a existência e não-existência

Com a única certeza de uma morte certa

Talvez eu não queira justiça e sim vingança

A única arma do meu filho é a arte

Eu disse para não se enganar com o touro de chifres polidos

Eles pregam paz e matam porque acham graça Transformaram cura em veneno

Fizeram meus filhos marcharem para o Planalto

Me fez questionar outra vez

E se a justiça fosse Vingança?

 

texto 6
00:00 / 01:51

Poema escrito e declamado por: Dylan Luna

Parabéns, colonizadores

Parabéns, colonizadores.

Pela morte das terras através de seus machados.

Pela poluição das águas que se tornaram secas.

Pelo incêndio do lar de tantos seres vivos.

Pelo genocídio direto e indireto de uma população.

Pelos estereótipos que vocês criaram

para justificar sua superioridade em relação aos indígenas.

Pela sua ganância em explorar riquezas dessas pessoas

sem o mínimo consentimento delas.

Pela miscigenação violenta que vocês impuseram

para fazer com que todas as etnias, menos a sua, desaparecessem.

Pela redução de todas as pessoas indígenas e suas crenças

a coisas folclóricas e do passado.



 

Mas ainda há indígenas aqui no presente.

Lutando para ter seus direitos reconhecidos,

mesmo que eles ainda sejam constantemente ignorados.

Espero, no futuro, ver esses direitos conquistados.

Ver pessoas indígenas ganhando espaços e contando a própria história.

História essa que,

quando contada pelo oprimido,

revela a verdadeira face do opressor.

Nossos descendentes saberão quem vocês foram e o que vocês fizeram.

É por isso que querem ser lembrados?

Vocês têm orgulho de seus feitos?

Deveriam ter pensado nisso

antes de tomar tudo que viam pela frente.

Ainda há tempo de se desculpar,

mas não há como desfazer os erros do passado.

De qualquer forma,

parabéns, colonizadores.

Espero que sintam vergonha do sistema de desigualdades criado por vocês

texto dylan

Glossário

Butantã =  Do Tupi-Guarani: bu (ibi) = terra; tatã (atã, tantã) = muito duro.

Gororoba = do Tupi-Guarani: guara – arvore; roba – amargo.

Buriti = Do Tupi-Guarani: mbur = alimento; iti = árvore alta; = árvore alta de alimento ou de vida.

Cipó = do Tupi-Guarani: ici-fila; pó-fileira. Nome genérico de todas as plantas de hastes finas e flexíveis que servem para atar; plantas trepadeiras que pendem das árvores; embira

Igapó = substantivo masculino Trecho de floresta com água estagnada em decorrência do transbordamento de rios.

Igarapé = do Tupi-Guarani: ir-r´apé = caminho d’água.

Gariroba = do Tupi Guarani guara-iroba = o indivíduo amargo. Palmeira; coco amargoso.

Jacaré = Do Tupi-Guarani: jaeça-caré = o que olha de banda.

Curumim = Palavra de origem tupi, e designa, de modo geral, as crianças indígenas.

Guri = do Tupi-Guarani: guirii – terno, brando. Termo muito usado no Sul do Brasil, para criança do sexo masculino .

Jururu = do Tupi-Guarani: juru-ru = pescoço pendido. Triste,abatido, chateado, desiludido

Baiacu = é como são chamadas diversas espécies de peixes que “incham” quando se sentem ameaçados. Do Tupi-Guarani: grafia antiga maiacu de mbaé-acu = a coisa quente, venenosa, por causa do seu fel.

Oiapoque = do Tupi-Guarani: oia-poc = o que explode ao abrir-se. Nome de uma cidade município e de um rio que banha o estado do Amapá.

Sapucaí = do Tupi-Guarani: sapucaia-i = rio do galo ou rio que grita.

Boitatá = Gênio que protege o campo e as matas dos incêndios; cobra-de-fogo. Do tupi-guarani: m(baé) – coisa; tatá – fogo; coisa de fogo.

Iguapé = na enseada, no lagamar, na bacia fluvial. Serve de porto.

Butantã
glossario
gororoba
Buriti
Cipo
Iguapo
igarapé
gaariroba
jacaré
curumim
guri
jururu
baiacu
Oiapoque
Sapcaí
Boita
Iguape

Grupo: Marcos Davi Bomfim Costa, Lorenna Barreto Silva Menezes, Dylan Luna Santos Souza.

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